terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Ladrões de Bicicletas



Ladrões de Bicicletas (Ladri di biciclette), de Vittorio de Sica, 1948, é um clássico do cinema italiano.
Trata-se de uma história pessoal, na Itália pós primeira-guerra. O filme é sobre um homem, António, de origem humilde, que consegue uma oportunidade de emprego indispensável para melhorar a sua vida e a da sua família. Porém, para conseguir esse emprego, precisa de uma bicicleta.
Ele tinha penhorado a sua antiga para comprar alimentos para a família. Necessita, então, de recuperá-la, vendendo para isso os lençóis e assim consegue o dinheiro.
Inicia o primeiro dia de trabalho, colando cartazes pelas ruas, mas logo nesse dia, tem um grande azar: a bicicleta é roubada! Tenta, em vão, perseguir o ladrão. Sem sucesso com a polícia, vai ter com um amigo à procura de ajuda. Porém, cientes que a bicicleta, já poderia estar desmontada, procuram os seus componentes. Novamente não conseguem recuperá-la, nem obter pistas.
Como última esperança, dirige-se à Porta Portese onde avista o ladrão a conversar com um senhor. Persegue novamente o homem que, mais uma vez, consegue escapar. Sem outra alternativa, vai atrás da única pista, o senhor que conversava com o ladrão.
Após procurá-lo e persegui-lo António, ameaçando chamar a polícia, obriga- o a dizer onde se encontra o ladrão e que ele irá com ele, como garantia. Porém, o velho consegue despistar António e desaparece.
Posteriormente, percebemos também um sentimento de remorso, por parte da personagem principal, por se ter zangado com o filho por algo sem importância e convida-o para irem comer piza. Ao sair do restaurante ele decide consultar uma vidente que não o ajuda e apenas lhe diz que se não recuperasse a bicicleta naquela manhã, nunca mais a veria. Ele, desolado, paga à vidente e sai.
Na saída defronta-se novamente com o ladrão que, uma vez mais, tenta escapar, embora desta vez ele o persiga, seguindo-o até à sua casa. Ao pressionar o rapaz para que confesse o roubo, António é cercado e confrontado por outros ladrões que lá se encontravam. O rapaz que roubou a bicicleta finge passar mal e debatesse, criando um espetáculo, apoiado pela sua mãe.
O filho de António consegue escapar e chama um polícia que chega rapidamente. Após vasculhar a casa do ladrão e não encontrar vestígios da bicicleta, o polícia diz a António que não a encontrara.

O protagonista, irritado, desiste do ladrão e vai-se embora.
Após observar várias bicicletas, bem como pessoas aglomeradas a sair com as mesmas, António decide entregar dinheiro para que o filho apanhe um táxi e o espere noutro lugar e tenta roubar uma delas. O seu plano não funciona e ele é apanhado! O desapontamento na cara do seu filho é explícito e este vai-se embora a gritar com o pai.
O dono da bicicleta roubada reflete então sobre o acontecimento e percebe que António tem muitos problemas, como o mau exemplo que deu ao seu filho, e decide então não fazer queixa contra o pobre homem.
O filme termina com António desconsolado a segurar a mão do filho, enquanto caminha, numa falhada tentativa de esconder o ressentimento…

A história, aparentemente simples, consegue ter um apelo universal, uma crítica social e um forte humanismo, elementos responsáveis pela aclamação e culto que o filme recebe até hoje. De Sica e outros diretores colocaram o cidadão italiano comum e ordinário no centro da história, com todos os problemas quotidianos que as pessoas têm de enfrentar como, por exemplo, a dificuldade de arranjar emprego (principalmente analisando o contexto pós-guerra que a obra insere). De Sica foi muito ousado ao realizar o filme, pois fê-lo apenas com atores amadores. Para ele, o uso de um ator profissional diminuiria a veracidade e o impacto que o filme provoca no espectador. E é justamente o impacto da mensagem transmitida que torna o filme tão essencial, mesmo quase setenta anos depois do seu lançamento. Outro elemento importante, é o modo de filmar contínuo, sem as grandes quebras e voltas de passagens que fazem com que a história siga um fluxo muito próximo do das nossas vidas e do mundo.
A mensagem de que, mesmo sendo justos e corretos, ainda estamos suscetíveis a não realizar os nossos sonhos. António e Bruno tornam-se exemplo de milhões de pessoas, por todo o mundo, que não são ajudadas, não têm voz e não têm escapatória. Para eles e para todas essas pessoas, resta apenas sobreviver da melhor forma possível. Este filme coloca a vida do cidadão comum em foco e faz com que ela ganhe evidência mundialmente. Assim, este filme influenciou diretores de todos os continentes. Continua a ser um exemplo de que, para mudar o modo como a arte se expressa, não são necessários grandes avanços tecnológicos ou estéticos. Às vezes, basta mudar a forma de pensar e pensar o que deve ser expresso.

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