terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Ponto de Vista

Vários autores, Projeto coletivo
Instituto Português de Fotografia

Visitei a 8ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa e tenho que admitir que não esperava que esta fosse tão frequentada e estivesse tão cheia. Foi agradável ver tanta gente com um interesse em comum. Parecia um espaço íntimo e apertado, mas era muito maior do que aparentava.

Assim que entrei no Arquivo Municipal Fotográfico de Lisboa observei uma série de caminhos possíveis, porque estavam a ocorrer várias exposições ao mesmo tempo; à entrada encontravam-se portfolios e pequenos projetos de vários artistas. Cada um diferente do outro. Para além de Portugal, havia publicações da América do Sul e de Espanha, o que revela interculturalidade, uma partilha de cultura e ideias. Escusado será dizer que se ouviam falar diferentes línguas, o que é bastante entusiasmante porque, para além de termos acesso aos diferentes aspetos culturais de outros, também podíamos partilhar os nossos com eles.

Seguindo em frente entrava-se na grande sala do Arquivo, onde havia contacto entre os fotógrafos (artistas/expositores) e o público, de forma a divulgarem o seu trabalho e com possibilidade da venda de algumas das suas publicações. De volta ao átrio, ao subir as escadas existiam várias salas, uma das quais para conferências, onde já estava a decorrer uma apresentação com artistas do país convidado, o Perú. Para além da sala de conferências tinha-se acesso ao espaço da exposição “[ANTE] câmara” e depois, por fim, entrava-se na sala da exposição “Ponto de Vista”, a qual decidi tratar e desenvolver.

Escolhi esta exposição por ter um registo diferente daquele que estou habituada a ver, e daí ter sentido uma maior ligação. Esta baseava-se numa seleção de vários projetos de finalistas do Curso Profissional de Fotografia. Vou  centrar-me em alguns autores mas, por ser uma exposição coletiva, é essencial fazer referência a todos os que contribuíram para a realização desta exposição: Ana Antunes, Neiva Vieira, Helena Amaral, Luísa Neves e Skarlath Batista. Toda a exposição remetia para a memória, recordações, arquivo e história. Onde há sempre momentos de reflexão e dúvida perante os trabalhos apresentados. As obras expostas transmitiram-me como que um outro mundo irreal, fantasioso e fictício, ou seja, uma mistura de realidades que ao se juntarem criam uma outra realidade irreal.

Um dos trabalhos que mais me fascinou foi “Instantâneas Transparências», de Ana Antunes e de Neiva Vieira. Eram uma série de transparências que demonstravam criatividade, mas muito mais que isso, demonstravam um lado pessoal e parecia que contavam uma história. «As vivências, as histórias que contamos aos outros, as que contamos a nós, os sonhos, os pesadelos que nos distraem da realidade – este processo de arrumar em divisórias, em camadas que nunca se dissociam umas das outras – tudo isto são dimensões que se ligam através de transparências, de fios que não se veem.». O trabalho parece ser incluído num registo mais experimental. As autoras conseguiram transmitir uma grande leveza, através das cores e transparências usadas. É um trabalho que me fez refletir, não só na técnica utilizada pelas autoras, mas também pelo seu contexto e pelas sensações que me despertaram. Há toda uma história por detrás de cada obra. É o tentar "ir mais além" e ultrapassar o que está à nossa frente, encontrar os diferentes “pontos de vista”, tentando decifrar e interpretar o que as autoras nos apresentaram.
Uma pequena nota: as fotografias dos espaços que se vêm não são da minha autoria, contudo as fotografias dos postais são. Na altura não tive a certeza se era possível fotografar, por isso trouxe os papéis como recordação da exposição. Mas uma vez que no papel e na parede a obra não parece a mesma (porque no papel parece que perde a transparência), achei pertinente inserir fotografias da exposição em si.



























Outro projeto que me despertou a atenção foi o de Luísa Neves, “Monólogos Ilustrados Suspensos no Tempo”. Foi fascinante notar o contraste entre a figura humana e o ambiente em que é introduzida, o que acabou por transmitir, pelo menos a mim, uma certa nostalgia. Talvez daí a descrição que a autora decidiu dar ao trabalho “suspensos no tempo”. Assim como no outro projeto, tudo o que resta é a reflexão e a imaginação. As fotografias antigas transportam para uma dimensão passada, mas ao mesmo tempo parece que a autora pretendeu transmitir uma emoção que sente no presente. Luísa Neves diz acerca do seu projeto que «Resta-nos o silêncio, frases por completar, histórias subvertidas sem poder identificar. O arquivo nunca é perfeito.».




























Vou apontar a data da 9ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa no meu calendário, porque com toda a sinceridade, foi uma experiência que teria todo o gosto de repetir. É sempre positivo termos novas referências, inspirações e contactos com o trabalho de outros artistas. É a primeira vez na minha vida académica que estou a ter Fotografia como unidade curricular e estou cada vez mais fascinada com este mundo. Recomendo a Feira do Livro de Fotografia de Lisboa a todos os amantes de fotografia, mas também a quem não o é, porque nunca se sabe se não haverá algo com que nos identificamos que mudará a nossa posição e opinião sobre os mais diversos assuntos. 

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