quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Lu Nan

Lu Nan
Trilogia 
Fotografia [1989-2004]

Curadoria: João Miguel Barros
10 de Outubro de 2017 a 14 de Janeiro de 2018

Esta exibição temporária é um tributo às obras e trabalho do fotógrafo Lu Nan, exposta no Museu Coleção Berardo. Está dividida em três seções, uma trilogia, tal como os seus três fotolivros, sendo a primeira ‘O povo esquecido: as condições de vida dos doentes psiquiátricos na China’, seguidamente ‘Na estrada: a fé católica na China’ e finalmente ‘Quatro estações: o dia a dia dos camponeses tibetanos’.

Lu Nan is deeply committed to showing us fragments of society removed from the collective consciousness, men and women left behind by the greedy quest for wealth, nagging thorns in the side of the illusion that our world is equal, and we all enjoy the same rights. Graziano Scaldaferri

Lu Nan é um fotografo claramente humanista, a sua sensibilidade é notável para com a trágica realidade representada nas suas composições fotográficas. Aborda temas sensíveis e de grande respeito, tratados numa composição quase que dolorosamente descritiva, de existências dispares da nossa realidade ocidental, num tempo ainda bastante atual mas tão distante, que nos faz refletir que outra  realidades duras estão ocultas e ignoradas pelo mundo fora.

1_O povo esquecido: as condições de vida dos doentes psiquiátricos na China
Nesta primeira parte da exposição é retratada uma dura realidade entre 1989 e 1990, onde a condição humana é demonstrada documentalmente. Lu Nan contacta com instituição não só nas cidades mas também nas províncias, presenciando a vida de milhares de doentes e suas famílias. Estas pessoas são deixadas escondidas do olhar público, para serem esquecidas, abandonadas por uma sociedade incapaz de aceitar o para lá da normalidade. Estas poderosas imagens demonstram as condições deploráveis em que estes se encontram, causando um certo desconforto e compaixão para com tamanha honestidade visual. A miséria humana nestas instituições faz refletir sobre como condições incontroláveis pelo ser humano determinam a vida dos afetados, um estrato social completamente esquecido.
“More harrowing than the appalling conditions they live in is the sensation of being in front of broken lives, individuals condemned by an ungrateful fate to an inescapable future of grief.” — Graziano Scaldaferri

    
2_Na estrada: a fé católica na China
Esta segunda parte da exposição, fotografada entre 1992 e 1996, retrata a opressão religiosa católica que se vivia na época devido há proibição de qualquer prática religiosa pelo Comunismo e durante a  Revolução Cultural, onde sobre ordem de Mao Zedong praticantes eram perseguidos e forçados à conversão para o ateísmo. Lugares sagrados foram destruídos e convertidos para fins governamentais. Lu Nan, visitou mais de 100 igrejas, mas encontrou a fé nas atividades da vida quotidiana dos crentes, que tem os seus valores fortemente implementados, retrata assim os que desafiaram a lei, mantendo a sua fé e praticando-a em confidencia em pequenas comunidades recatadas. Esta luta permanece ainda hoje em dia com a governo a supervisionar e proibir relações com o vaticano. Sendo assim estas imagens representam as orações e praticas escondidas dos chineses católicos.    


3_Quatro estações: o dia a dia dos camponeses tibetanos
Entre 1996 e 2004 Lu Nan fotografou a ultima parte da sua trilogia, acompanhando a vida em comunhão com a natureza de camponeses tibetanos. Fazendo composições onde é demonstrado o trabalho de grande esforço desta população, que durante o ano em uniformidade com as suas terras,  as cultivam para sobreviver com as necessidades mais básicas. É feita uma abordagem sazonal, acompanhando as várias estações do ano ‘desde a sementeira, na primavera, à ceifa, no outono, desde a espera pela colheita, no verão, até a sobrevivência, durante os meses agrestes do inverno.’ 
Todas estas imagens inspiram a reflexão e comparação de este estilo de vida e a condição da sociedade moderna, que tomamos como garantido, mas que é tudo menos universal e coerente nas imensas vidas humanas espalhadas pelo mundo fora.    



Tibete. Xigaze, a cerca de 300 kilometres de Lhasa, nos Himalaias, 200 
Esta  obra em especifico, sobressaiu, devido a quase que ironia e humor destas mulheres que dançam no meio do nada, que parecem tão insignificantes perante a magnitude que são os Himalaias, dança numa paisagem inóspita, mas estão felizes. Parece-me quase que um momento transcendental e irreal, a junção de dois mundos diferentes.
Estão a dançar uma dança típica tibetana Guoxie, que significa aldeia. É uma dança, bastante popular nas zonas rurais, onde em circulo as pessoas de mãos dadas dançam e cantam em pleno céu aberto, marcando o ritmo com os seus pés. Apesar das suas condições ainda festejam e dançam, olhando para a câmara. É uma dança coletiva para expressar entusiasmo e alegria.
O horizonte está a dois terços da composição e as figuras humanas alinhadas ao centro. A ampliação é em gelatina de sais de prata sobre papel de fibra brilhante.

É visível assim todos os costumes culturais desta população, na sua forma de estar, na dança, no seu vestuário e obviamente no espaço que as rodeia, que refletem a história, as crenças e características destas pessoas.

Esta exposição, para além de extremamente dramática e apelativa aos sentimentos devido às histórias por trás das imagens é igualmente bonita em composições de perfeita harmonia onde a forma de expressão através do contraste  preto e branco, luz e sombra, representam unicamente estas condições humanas, muitas vezes acompanhado de paisagens incríveis, de uma Asia recatada e deslumbrante. Resultando num efeito visual sensorial, apelando a uma reflexão interior do observador.


Estas cenas para lá da nossa familiaridade que nos acordam da nossa bolha ocidental, num relance para um mundo distante e impalpável que parece tudo menos real, como pode isto acontecer numa sociedade tão preocupada com os direitos humanos e as condições básicas de vida, os contrastes ainda são grandes.



 

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