Na vida das sociedades onde reinam as condições
modernas de produção, ocorre uma
imensa acumulação de espetáculos e que
tudo o que era vivido realmente se tornou
uma grande representação.
As imagens que
se apresentam na vida, constituem um mundo
à parte, isto é, as imagens possuem uma
realidade própria, que acabam por se encerrar
na construção de diversas realidades que
se cruzam num movimento dinâmico.
O espetáculo unifica a sociedade, onde o espetáculo
não é só um conjunto de imagens,
porém uma relação social entre pessoas.
Na sociedade em que se convive com a indústria
moderna, o espetáculo inicia-se e
encera-se nele mesmo, transformando-o na
principal produção da sociedade atual. Através
da representação é possível relatar a realidade de muitos através da representação.
Com a imagem, os aspetos da vida fundem-se
com o espetáculo, onde o mentiroso mente
a si mesmo.
É a irrealidade de uma sociedade
real.
O espetáculo saiu dos palcos e passou
para as ruas. A sociedade quotidiana começou
a tornar-se num conjunto de personagens
que interagem entre si através de reações
aos elementos a que são expostos sob todas
as formas: propaganda, publicidade, consumo,
direto do entretenimento. O espetáculo
constitui uma forma única de consumo.
Esta necessidade social de se viver
através de imagens tornou-se quase como
um instinto natural para o ser humano, o ter e o ser perdeu espaço para legitimar o parecer,
transformando estas imagens em realidade social.
No entanto fomos reduzidos a uma sociedade
espectadora, regendo-nos através do espetáculo. Assistimos a realidade na qual estamos
inseridos, da qual fazemos parte. Observamos
e fazemos, somos o público e os atores
da sociedade.
A origem do espetáculo é a perda da essência
do mundo e a expansão gigantesca do
espetáculo moderno revela o quão grande
foi essa perda.
Todo o trabalho particular e a
produção geral, traduz- se perfeitamente no
espetáculo. Deste modo, leva a sociedade
espectadora a distanciar-se do conhecimento
da sua própria existência. O espetáculo
na sociedade corresponde a uma fabricação
concreta da alienação.
Todo espetáculo, imagem, propaganda mostra
uma gama imensa de tendências e objetos.
Com isso é capaz de ditar modas e até
campanhas contra ou a favor de uma causa,
denegrir ou arruinar, pois é a principal produção
da sociedade atual.
Até que ponto a sociedade de hoje não se
embrenhou no espetáculo, e caso esta consiga
libertar-se deste, será o melhor a fazer?
Saberia uma sociedade de hoje viver sem o
espetáculo?
Uma sociedade que vive do parecer, provavelmente
não conseguiria viver com a realidade
do “real”, existiria sempre a necessidade
da auto-afirmação e esta auto-afirmação seria
o cerne do parecer, seria certo que voltaríamos
a este ciclo de relação entre o ser, o ter
e o parecer.
Como todas as nossas ações começaram
a ser feitas em torno do parecer, sendo isto
numa sociedade do consumismo, todas as
nossas ações começaram a gritar “quanto
mais tenho, mais pareço e quanto mais pareço
mais poder social tenho”. Tornou-se uma
sociedade materialista e superficial, onde o
que mais interessa é a quantidade de objetos
da moda que temos. O conteúdo de uma pessoa
passou para uma posição secundária.
Sendo que o espetáculo é a principal produção
da sociedade atual, a criação de modas
torna este aspeto do parecer ainda mais saliente.
Falemos, por exemplo, de um objeto
físico, um produto, uma mercadoria. Essa
mercadoria cai em moda devido ao espetáculo
e a toda a propaganda que se faz em torno
desse objeto. A sociedade materialista e
superficial corre para o ter.
Esta corrida para obter estas mercadorias torna se numa corrida
ao parecer, e quanto mais uma pessoa
correr atrás destes objetos para adquiri-los,
mais poder social ela terá na comunidade
onde vive, pois tem nas mãos um objeto que
a sociedade quer ter.
E vemos isto todos os dias, vivemos com isto
desde que nascemos, e basta perguntar a
uma criança porque é que ela quer “aqueles
ténis” e não outros quais queres. A resposta
seria simples e concisa: “Porque está na
moda”.
Refência: Guy Debord ; Sociedade do Espectáculo ; 1967.
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