quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

possibilidade

Existem dois tipos de ideias. As primeiras formam-se após confronto com uma realidade material, uma perceção sensível, em que isolamos algum núcleo como coisa, diferente do resto que a rodeia, é delimitada e considerada na sua unidade(1)… E as ideias abstratas são as que, diria eu, partem para uma reflexão sobre a própria existência das coisas. 

Logicamente, a imaginação só pode conceber o contrário de uma condição de existência após apercebida essa condição de existência. Por exemplo, notar que o orientalismo só tem sentido enquanto oposto de ocidentalismo, não foi óbvio para os primeiros a empregar este termo... mas é verdade! 

É o que faz Saussure quando reflete sobre o facto de as palavras serem escolhidas. E nota como as palavras faladas acontecem, são eventos, são postas em presença, serem escolhidas é serem feitas carne e osso. Notando neste facto de uma palavra entrar no mundo testemunhável, dá-se conta doutra possibilidade de existência, a possibilidade de não ter presença, a de não ser um evento, de ser uma mera possibilidade. E assim existem palavras que são apenas in ausência, são de uma nova maneira, existem de uma nova maneira… só enquanto possibilidade. De facto, imaginar outra possibilidade de condição de existência é sempre imaginar algo que é enquanto possibilidade.


Marx critica Hegel pois defende que é a consciência que determina a vida e a realidade em que nos sabemos (mesmo que só saibamos ilusoriamente). Mas sobre aquilo que reflete Hegel vai além daquilo de que se apercebe ou não uma consciência. Hegel acompanha o desenvolvimento duma consciência que se vai apercebendo e imaginando novas possibilidades. Vai além da reflexão que faz no tempo a consciência, e ao imaginar a consciência na -possibilidade de- intemporalidade, imagina - a possibilidade de - algo que não tem condições de existência (o Geist). Imagina portanto a coabitação de condições supostamente incompatíveis. Tais como ser um todo e ser dividido em partes, até o ser uma possibilidade e ser uma necessidade, o ser e não ser.
 E é por isso que esta imaginação está no limite das palavras, pois imaginar um mundo em que não existem condições de existência, é um mundo que não podemos pensar, sobre o qual nada pode ser dito pois nada existe da forma que o nosso pensamento concebe a existência, (pois nada se submete às condições de existência).

(1)Muitas linhas de pensamento procuram a sabedoria, que é uma visão do todo; não há distinções, não há eu e o outro mas isso é ilusão do pensamento, todos somos o todo.

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