Existem dois tipos de ideias. As primeiras formam-se após confronto com uma
realidade material, uma perceção sensível, em que isolamos algum núcleo como
coisa, diferente do resto que a rodeia, é delimitada e considerada na sua unidade(1)… E as ideias abstratas são as que, diria eu,
partem para uma reflexão sobre a própria existência das coisas.
Logicamente, a imaginação só pode conceber o contrário de uma condição de
existência após apercebida essa condição de existência. Por exemplo, notar que o orientalismo
só tem sentido enquanto oposto de ocidentalismo, não foi óbvio para os
primeiros a empregar este termo... mas é verdade!
É o que faz Saussure quando reflete sobre o facto de as palavras serem
escolhidas. E nota como as palavras faladas acontecem, são eventos, são
postas em presença, serem escolhidas é serem feitas carne e osso.
Notando neste facto de uma palavra entrar no mundo
testemunhável, dá-se conta doutra possibilidade de existência, a possibilidade
de não ter presença, a de não ser um evento, de ser uma mera possibilidade. E assim
existem palavras que são apenas in ausência,
são de uma nova maneira, existem de uma nova maneira… só enquanto
possibilidade. De facto, imaginar outra possibilidade de condição de existência é sempre imaginar algo que é enquanto possibilidade.
Marx critica Hegel pois defende que é a
consciência que determina a vida e a realidade em que nos sabemos
(mesmo que só saibamos ilusoriamente). Mas sobre aquilo que reflete
Hegel vai além daquilo de que se apercebe ou não uma consciência. Hegel acompanha
o desenvolvimento duma consciência que se vai apercebendo e imaginando novas possibilidades. Vai além da reflexão que faz no tempo a consciência, e ao imaginar a consciência na -possibilidade de- intemporalidade, imagina - a possibilidade de - algo que não tem condições de existência (o Geist). Imagina portanto a coabitação de condições supostamente incompatíveis. Tais como ser um todo e
ser dividido em partes, até o ser uma possibilidade e ser uma necessidade, o ser e não
ser.
E é por isso que esta imaginação
está no limite das palavras, pois imaginar um mundo em que não existem
condições de existência, é um mundo que não podemos pensar, sobre o qual nada
pode ser dito pois nada existe da forma que o nosso pensamento concebe a existência, (pois nada se submete às condições de existência).
(1)Muitas linhas de pensamento procuram a sabedoria, que é uma visão do
todo; não há distinções, não há eu e o outro mas isso é ilusão do pensamento,
todos somos o todo.
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