Quando vi pela primeira vez o filme Ex Machina de Alex Garland, fiquei um pouco desapontada. O meu desconforto em relação ao desfecho devia-se ao facto de estar apenas a refletir sobre a máquina e o meio envolvente da Inteligência Artificial (AI), em vez do verdadeiro propósito do filme: a ambição humana.
Este gira à volta de três personagens. Natham, um alcoólico e CEO brilhante, que convida Caleb, o programador da maior empresa de pesquisa na Internet do mundo, para testar a consciência de um robot com Inteligência Artificial com o nome de Ava.
A partir do momento em que Caleb se apercebe que Ava está a tentar seduzi-lo, pergunta a Nathan se a programou para o fazer. Ele explica que apenas a programou para ser mulher e que o objetivo é relacionar-se com o seu próprio corpo, ser auto consciente e heterossexual.
Caleb: Did you program her to like me, or not?
Nathan: I programmed her to be heterosexual. Just like you were programmed to be heterosexual.
Caleb: Nobody programmed me to be straight.
Nathan: You decided to be straight? Please — of course you were programmed, by nature or nurture, or both. And to be honest Caleb you’re starting to annoy me now because this is your insecurity talking, not your intellect.
Naturalmente, o observado assume a posição de Caleb, que defede escolher como é. Mas a perspetiva de Nathan é difícil de contra-argumentar. Apesar de todas as nossas escolhas, somos influenciados por tudo o que nos rodeia. Caleb não escolheu ser heterossexual e o mesmo serve para todos os tipos de sexualidade: somos programados pela natureza. Desta forma, ela estaria interessada em Caleb apenas como uma consequência “natural” do seu programa e existência enquanto mulher, que apenas viu dois homens em toda a sua vida.
Nathan tenta manipular Caleb de todas as formas que encontra: acede ao seu histórico de pesquisa, ao seu passado, à sua história enquanto órfão. Apesar de Caleb se ter apaixonado por Ava, juntos tentam usar os defeitos de Natham para fugir. Afinal, o que se pode observar aqui é um caso semelhante ao do Pinóquio: um robô que quer ser humano.
No fundo, as três personagens principais estão constantemente a desafiarem-se entre si de acordo com as suas capacidades para prever e reprogramar os seus próprios programas, também com base nas próprias ambições. Mas uma máquina de alto desempenho não conseguiria utilizar toda a informação da internet para saber como solucionar o problema sem falhar? É isso que faz com que ela consiga fugir. Ava sabe que não é completa como um ser, principalmente quando Caleb argumenta que ela pode saber tudo sobre o que quiser, por ter acesso a todas as bases de dados da Internet. Mas ela não viveu, não teve experiências. E de acordo com Caleb, é isso que faz de nós humanos. Era isso o que lhe faltava como ser, por estar fechada numa gaiola de vidro.
Podemos pensar que Ex Machina é apenas mais um filme que mostra como a Inteligência Artificial pode tirar proveito dos humanos. Mas, acredito que o objetivo de Garland seja o retrato da ambição, ou seja, a ambição do Homem de dominar por completo a sua vida. Criada de acordo com o modelo de um humano, é natural que Ava queira usar qualquer meio para atingir os seus objetivos. Da mesma maneira que Nathan invadiu a privacidade dos outros para alcançar o sucesso do seu projeto.
Afinal, tudo o que o Homem faz é, acima de tudo, sobre o próprio Homem.

Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.